domingo, 9 de agosto de 2009

Três vezes o Mal Secreto : Raimundo Correia, Waly Salomão e Jards Macalé, Gal Costa

Podemos encontrar um diálogo fecundo entre os clássicos versos de Raimundo Correia e os versos de Waly Salomão. Para além de qualquer surpresa ou espanto, temos aqui o encontro entre um poeta parnasiano e um poeta e um músico/compositor conhecidos como "marginais". A leitura que cria é a mesma que faz o poeta criar a si mesmo. Esse poema foi cantado por Gal Costa no álbum -FA-TAL - de 1971.

MAL SECRETO(Raimundo Correia)

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!,

MAL SECRETO
(Waly Salomão; música: Jards Macalé)

Não choro
Meu segredo é que sou rapaz esforçado
Fico parado, calado, quieto
Não corro, não choro, não converso
Massacro meu medo
Mascaro minha dor
Já sei sofrer
Não preciso de gente que me oriente
Se você me pergunta “como vai”?
Respondo sempre igual “tudo legal”
Mas quando você vai embora
Movo meu rosto do espelho
Minha alma chora
Vejo o Rio de Janeiro
Comovo, não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho
Não fico parado, não fico calado, não fico quieto
Corro, choro, converso
E tudo mais jogo num verso
Intitulado Mal Secreto

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