domingo, 14 de abril de 2013

BOI MORTO: POEMA DE MANUEL BANDEIRA





Como em turvas águas de enchente, 
Me sinto a meio submergido 
Entre destroços do presente 
Dividido, subdividido, 
Onde rola, enorme, o boi morto, 

Boi morto, boi morto, boi morto. 

Árvores da paisagem calma, 
Convosco – altas tão marginais! 
Fica a alma, a atônita alma, 
Atônita para jamais. 
Que o corpo, esse vai com o boi morto, 

Boi morto, boi morto, boi morto. 

Boi morto, boi descomedido, 
Boi espantosamente, boi 
Morto, sem forma ou sentido 
Ou significado. O que foi 
Ninguém sabe. Agora é boi morto, 

Boi morto, boi morto, boi morto.

Do livro Opus 10

Um comentário:

Teté M. Jorge disse...

Bandeira tem poemas que nunca li... só vindo aqui mesmo... obrigada.

Beijos.